sexta-feira, 1 de abril de 2011

O refrigerante, a tora e você



Reproduzo aqui o artigo publicado no Yahoo de autoria de TATIANA ACHCAR, uma reflexão importante para todos nós:
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Enquanto a gente almoça um bifinho suculento, passeia de carro e mora no conforto da casa própria, o pau tá comendo na floresta. Literalmente. A madeira ilegal da Amazônia que o sul maravilha compra na forma de móveis, objetos de decoração, carne, refrigerante em latinha, energia elétrica, casas e apartamentos tem, na verdade, uma relação ampla e intrínseca com o sonho de consumo de quem mora nas cidades. Por sonho de consumo, entenda menos necessidade e mais status. E viva o boom da economia brasileira.
Muito provavelmente, meu liquidificador e minha bicicleta tem madeira retirada ilegalmente de áreas de conservação ambiental e de terras indígenas. Porque precisam de carvão, que vira ferro e que por fim, vira aço. A coisa funciona de um jeito simples: fiscais de órgãos ambientais que atuam em conluio com o crime emitem uma licença a partir de documentação de aparência legal. Daí, o dono da terra manda cortar tudo e a madeira que não serve para construir prédios e fazer móveis vai para carvoaria. Quem queima a madeira trabalha como escravo.
A indústria da carne ocupa 80% das áreas desmatadas na Amazônica e o futuro pasto é adquirido com baixo custo graças à ocupação irregular de terras públicas, a grilagem. O que sobra de madeira é vendido para serrarias e o gado é vendido para frigoríficos que abastecem com carne as gôndolas dos supermercados. Grandes redes de mercados aderiram a um pacto contra o desmatamento ao comprar carne de fornecedores que não derrubam floresta.
Espera aí, tem a soja. Os donos “limpam” a terra ou ocupam terrenos já desmatados para instalar a lavoura. Pecuária e outras atividades são obrigadas a se deslocar para novas áreas. Abrem-se estradas para escoar o grão, isso atrai madeireiros e mais destruição acontece. Sem floresta na beira dos rios, o ciclo da água, perfeito em sua forma e função, vai pro beleléu, afetando a biodiversidade e a vida das comunidades tradicionais. A soja é exportada para Europa e Estados Unidos para produzir ração animal e alimentos que chegam aos supermercados em todo o mundo. O grão já transformou 1,2 milhão de hectares da floresta amazônica em plantação, mudou o clima e reduziu as chuvas. Em 2010, a região viveu a pior seca da história e alguns dos principais rios ficaram 15 metros mais baixos.
Agora dá uma olhada nessa imagem de satélite noturna do Brasil. O brilho mora na costa toda, mas o diamante está no sudeste. O desperdício de energia nas hidrelétricas e linhas de transmissão sucateadas, nas grandes cidades, nas fábricas, escritórios e nas casas tem relação direta com a madeira retirada sem cuidado na Amazônia. Porque a estratégia do governo para gerar a energia necessária ao crescimento do país é inundar florestas e persistir num modelo de desenvolvimento econômico baseado na extração de matéria prima para exportação, sem nenhum beneficiamento. Leia: alumínio, aço e madeira. As fábricas de aço e alumínio consomem 30% da energia gerada no Brasil e a maioria está na Amazônia. E o mercado consumidor – da latinha de refrigerante aos apartamentos – está em São Paulo. Calcula-se que o estado paulista é o maior consumidor de madeira nativa do mundo, recebendo 5,6 milhões de metros cúbicos, ou 20% do que sai da floresta para obras de infraestrutura e na explosão imobiliária. Entre 43% e 80% dessa produção tem origem ilegal. Nas obras da Copa do Mundo de 2014, 98,5% do orçamento de R$ 23 bilhões sairão dos cofres públicos. O setor público tem ou não tem poder de barganha para mudar procedimentos e promover ações sustentáveis?
A madeira não é a vilã da história, é um recurso renovável, importante para muitas atividades, que precisa de manejo sustentável para valorizar a terra e suas riquezas, melhorar o aproveitamento da madeira e reduzir o custo da exploração e os danos à floresta. A certificação e o rastreamento garantem que toda a cadeia da madeira, desde a origem legal até o consumo, seja feita sob critérios socioambientais sustentáveis. Para ir mais fundo no assunto, recomendo o recém lançado “Madeira de ponta a ponta – o caminho desde a floresta até o consumo”, um trabalho investigativo e pedagógico essencial para divulgar e promover o tema, fonte de muitos dados desse texto.
E pra quem mora na selva de pedra, que diferença isso faz? Presta atenção: a gente só não vive num deserto graças às 600 bilhões de árvores da Amazônia. Elas evaporam 20 bilhões de toneladas de água por dia na atmosfera e esse suor da floresta cria um rio invisível e flutuante. Ele é o único responsável por regular a temperatura e umidade da América do Sul. Se você acha que não tem nada a ver com isso, então vai morar no Kalahari.
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Meu comentário:
Houve muitos comentários relacionados á este artigo, todos válidos, sem sombra de dúvida, porem pela limitação de caracteres não pude concluir o meu, então o faço aqui:
Escrevia eu: Parabenizo-a pelo seu artigo e só na imaginação, creio que nenhum político tomou conhecimento do mesmo e destaco:
O interesse deles, pelo menos da bancada ruralista é alterar o projeto do Código Florestal Brasileiro, com algumas justificativas, querendo fazer crer á sociedade, que as mesmas sejam as melhores para todos o que obviamente não coaduma com o que você escreve e por outro lado, nós moradores de outras cidades, somente agora podemos acreditar nas informações que você transmitiu, que via de regra são manipuladas pelos interesses escusos que você abordou, então, tomo a liberdade de reproduzir seu artigo em meu blog, esperando contribuir para que outros tomem conhecimento e também retransmitam da forma que desejarem.

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